quarta-feira, 5 de setembro de 2007

O Jovem Guardador dos Reais Princípios

Fernando subiu no ônibus, pagou o cobrador, procurou um lugar vazio e se sentou. Era o mesmo dia de sempre, apenas mais um dos tantos outros iguais. Colocou o fone no ouvido, fechou os olhos e começou os seus devaneios ao som de Vivaldi. Costumava sonhar-se Imperador do mundo - mundo que estaria em paz sob seu autoritarismo. A vida parecia-lhe sempre injusta. As pessoas, sempre "lixos" - como costumava dizer. Pertencia ao restrito grupo dos guardadores dos reais princípios - outra expressão de que muito se valia - e abominava a juventude mente aberta, filhos do bacanismo, da permissividade. Isolado do mundo, pensava apenas no dia em que estivesse formado em direito, no dia em que teria o poder nas suas mãos e nada lhe deteria. Aí sim poderia vingar-se dos inescrupulosos que tanto lhe faziam ferver o sangue.

O caso é que repentinamente algo lhe chamou a atenção: um forte odor aguçou seu olfato. Não aquele comum já ao seu sentido, que ocorre entre a multidão que se aperta em ônibus. Era exótico, nunca havia sentido tal cheiro. Ao olhar para o lado se deparou com um ser um tanto incomum (estava tão entretido em seus pensamentos que não notou que alguém havia sentado ao seu lado). O homem ali sentado vestia-se, num lance de soslaio, normalmente e não fosse a grande argola em sua orelha, e o cachimbo que fumava, se confundiria na multidão. Ao tirar os fones do ouvido percebeu que esse homem falava em espanhol e estava vendendo brincos aos passageiros.

Fernando não tirava os olhos do homem, e percebendo, o mesmo se virou e mostrou seus produtos. Fernando fez um sinal negativo com a cabeça e quando ia por de volta o fone no ouvido o vendedor lhe dirigiu a palavra. Nunca ouvira tanta baboseira política em tão pouco tempo (pelo menos foi assim que classificou a conversa ao contar o ocorrido a um amigo). Era socialismo para cá, liberdade para lá, Che Guevara isso, Estados Unidos aquilo. Em pouco tempo se cansou da conversa e de tentar discutir. Pôs o fone no ouvido, encostou a cabeça na janela e continuou a ouvir As Quatro Estações, como se nada houvesse acontecido.

Contudo algo incomodava o jovem guardador dos reais princípios. Em certo ponto da conversa o vendedor de brincos comentou algo sobre a Verdade. Um comentário frívolo, mas que abriu as portas para o questionamento - algo que nem existia em seu mundo. Mas logo o incomodo desapareceu e ele esqueceu tudo aquilo, afinal não valia a pena abalar as bases de seus valores em busca de algo que os sábios concluíram como relativo.

domingo, 12 de agosto de 2007

Diz-se que um corpo está em estado de imponderabilidade quando é submetido a apenas uma força, o Peso. Nesse estado a sensação é de flutuação e por isso popularmente está relacionado à ausência de peso, o que é um equivoco poiso que produz a sensação de peso é a Normal. Normal é a força trocada com o corpo pelo apoio. Assim, imponderabilidade é a ausência de apoio.

O homem, quando falha na busca por suas metas, se sente sem apoio. O mundo lhe parece um abismo no qual cai constantemente e falta-lhe uma Normal que o sustente e o faça seguir adiante: se sente em estado de imponderabilidade.